🕯️ O Sussurro no Porão – Parte 2: O Armário, a Chave e os Costurados

Baseado em um relato real.


“Há lugares que não devem ser abertos. Nem dentro da casa. Nem dentro da mente.”


Durante o dia, tudo parecia normal. Mas à noite… a casa mudava. Eu comecei a notar coisas pequenas — a cadeira de balanço que girava sozinha, mesmo com as janelas fechadas. A luz do corredor que piscava sempre no mesmo minuto. E o som.

Sempre ele. Aquela voz sussurrada, arrastando meu nome com a delicadeza de quem segura uma faca:

Líííívia…

Não sei quando comecei a sonhar com o armário. Sonhos confusos. O interior escuro, algo me observando lá dentro. Às vezes era a voz da minha avó que eu ouvia, chorando. Outras vezes, era a minha própria voz… vinda de dentro do armário.

Na realidade, ele seguia fechado. Trancado com um cadeado antigo. Mas havia uma chave.

Encontrei dentro de um livro de receitas da minha avó. Encaixava perfeitamente.

Abri.

Dentro havia apenas escuridão… e um alçapão.

O chão do porão escondia outro porão — um compartimento abaixo, ainda mais antigo. As tábuas que cobriam o buraco estavam riscadas com os mesmos círculos do armário. Ao abrir, um cheiro de ferro, umidade e… algo indescritivelmente doce invadiu o ambiente. Como flores apodrecidas.

Desci.

O túnel parecia feito à mão. As paredes de pedra, a iluminação precária da minha lanterna tremendo a cada passo. E então, a câmara.

No centro, uma cadeira de rodas antiga. De costas para mim. E nela, alguém.

Ou algo.

A figura estava imóvel. Rígida. A pele acinzentada. Os olhos… costurados com linha preta. A boca também. Ainda assim, parecia… viva.

No chão, um caderno. Papel envelhecido. Escrito à mão.

“Ela ouve. Sempre ouviu. A primeira costurou os olhos. A segunda, a boca. A terceira, os ouvidos. Mas nenhuma impediu que ela entrasse.”

As páginas seguintes estavam ilegíveis. Só manchas vermelhas.

Senti a lanterna falhar. O frio aumentou. Atrás de mim, passos.

Mas quando me virei, não havia ninguém.

E então ouvi, pela primeira vez, algo que não era sussurro.

Era uma respiração.

Pesada.

E vinha de dentro da minha cabeça.

Cherry Blood Escrito por:

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